quarta-feira, 24 de junho de 2015

MÉDIUNS A HORA DA VERDADE - Por David Chinaglia





Estimados amigos de jornada e amigos da doutrina espírita pelo Brasil, tenho conversado com companheiros dirigentes espíritas, outros colaboradores de casa espírita, e alguns assistidos que sempre nos procuram para conversar sobre o blog e o espiritismo.

Certa vez Allan Kardec, disse que a figura do médium era apenas de um colaborador, igual ao representante que abre a casa espírita, ou seja, que não poderia haver dentre o mediador da comunicação, nem soberba nem orgulho muito pelo contrario, esta figura mística iria se tornar peça importante desde que fizesse seu trabalho sem ser notado.

Num dos e-mails que recebi estes dias, uma senhora aqui no litoral sul Bandeirante, me relata que ao ficar dentro da camara espírita notou o médium, um deles, se erguer da cadeira, respirar fundo, e começar a falar mais alto que os demais, muito embora o atendimento fosse coletivo, ela entendeu que a manifestação do espírito era com ela e saiu de lá mais pertubada do que entrou, de quem é a culpa ?





Primeiro do médium depois do coordenador do trabalho, é preciso que todos os senhores que nos leêm entenda que a única incomporação possível ou sendo mais alguém dentro do seu corpo é a gravidez.

Não existe é mentira a não ser em casos raros de obsessão grave, posse do corpo por um espírito, ninguém entra no corpo de ninguém, a partir do nosso próprio espírito que fica numa linha acima do corpo e não dentro.(Livro dos Médiuns).
Muito bem se nem o nosso espírito entra no nosso corpo físico, sendo ligado por um fio espiritual chamado de "prata" que não vou detalhar por não ser necessário para quem conhece o espiritismo, muito menos, espíritos alheios.
Seja ou não mentor do médium, ou ajudante espiritual da casa, ou mesmo acompanhante espiritual do assistido ou sua obsessão, não entra no corpo do mediador, isto é crendice, tolice, e falta de informação sobre como funciona o sistema.
Se pegarmos 10 médiuns atuantes dois de cada casa espírita a metade nunca leu, nunca estudou o LIVRO DOS MÉDIUNS de Allan Kardec, se cada médium soubesse o risco que corre ao trabalhar despreparado, ou sem base, ou só base do amor, sairia correndo do trabalho que atua.



Quando um espírito é convencido pelo dirigente do grupo de trabalho a deixar a pessoa, isto não ocorre em um dia, pode ocorrer por umas horas, nada mais que isto.
Vejo Coordenadores falando pronto o mal foi afastado pelas forças espirituais superiores, mentira, isto não existe.
Não tem como um médium com qualidade dar passagem á mais de 04 espíritos em digamos 10 minutos, isto é falta de noção de quem diz receber, e de quem coordena.

O sistema espiritual é simples e o mais temos é o uso do  clássico livre arbítrio, ninguém tem poderes para tirar nada de ninguém se a parte atingida ou mesmo a parte que atacada não fizerem um acordo.



Muitas casas deveriam estudar o clássico de Herminio C Miranda, Dialógo com as Sombras, para entender a importância de um grupo espírita
Muitas vezes o que ocorre é que o espírito que está a pertubar a pessoa, é a própria pessoa, seus pensamentos, como para tudo o ser humano precisa de um culpado, mais fácil culpar um espírito, e isto nos mostra que 50% consegue melhorar em duas ou três sessões espíritas, mas na verdade foi a própria pessoa que deixou de se atormentar.
A terceirização da responsabilidade da casa na mão da "espiritualidade amiga" é feita sem noção nenhuma, temos muitos centros trabalhando em nome do amor, com técnicas que mostram uma falta de entendimento do que codificou Kardec, e do que realmente é o espiritismo.
Vejo médiuns erguerem a voz, dar lição de moral pública e em voz alta se escondendo na voz de um espírito e a maioria das vezes se trata do próprio médium, que sem informação acha que está sendo intuído por um espírito e fala coisas que ele mesmo cria como citei acima no animismo.

Quanta tolice vem sendo praticada em nome do amor, e o resultado é o tormento depois do assistido e de médiuns despreparados para a hora do retorno, ou alguém acha que por exemplo se temos um campo espiritual, com espíritos do mal, digamos assim para todos entenderem, o curador, ou o socorrista fica impune do ódio, a prática no entanto é regulada por um sistema, e irão perguntar, qual sistema ? 
O Do estudo, a mão do dirigente que fica ao lado e determina regras, que corta e impede o médium de se propagar ou de assumir ares de curador, salvador, elemento especial, porque não é, é apenas mais um dentro de um processo muito complexo que é doar a mediunidade para a conversa com a outra dimensão.
Tem gente em casa espírita achando que isto é assim fácil, liga, desliga, fala, desfala, muda tudo, e depois quando as coisas não acontecem falam para o assistido, é o plano.
Que plano ? se grande parte não sabe nem com o que está mexendo, já vi pessoalmente médiuns entrarem na sala fazendo o sinal da cruz, MEU DEUS! o que é isto ? onde este infeliz estudou, o que leu.?




Ainda me recordo em Piracicaba,  de um curso que fiz que um dirigente espírita deixava claro uma posição um grupo de médiuns se solidifica a cada 10 anos de trabalhos juntos, estudo, aperfeiçoamento.(leiam a obra do codificador senhores e senhoras).

Ser caridoso, ser do amor, não dá direito a ninguém de querer saber da vida do alheio, já vi casos de dirigentes e médiuns espíritas comentarem o problema de um assistido entre si e vazar causando danos na vida da pessoa e depois para o bom nome da doutrina.
Médium obsediado por si, ou pela fama, ou até por espíritos perturbados que tomam conta da casa, que afoitamente querem curar, e resolver problemas de todo mundo, mudando destinos, e fatos.

Temos visto muito isto em casas de cura, cidadão está de posse de um câncer, criado por ele mesmo, cultivado por seus pensamentos, e sem ele pedir, alguém quer cura-lo, muitas vezes se consegue um adiamento, ou mesmo a cura, a pergunta que se faz necessária, é foi correto cura-lo ? salva-lo ? ele merecia isto ? temos posse do real passado, ou apenas nos cabia ajudar, provisoriamente deixando sim ao tempo e ao destino sua cura ?

Algumas casas estão como seus médiuns perturbados, vejo alguns lugares, pedirem endereço com CEP e tudo, vi casas pedirem fotos de parentes ou obsessores de assistidos, criando rituais mais complexos.
O ódio se alastra, muitas vezes quando não temos coragem de falar a verdade, nem mesmo quando vão se passar por vítimas em casas espíritas ou mesmo perante a sociedade.

Necessário portanto para médiuns e casas provocarem um renovação, uma checagem de suas atitudes, porque o assistido está mais informado tanto por livros como pela internet, ele busca saber se o lugar que está indo está resolvendo ou complicando sua vida, e está atento desde que não viva seitas, ou casas que mais praticam a extensão de uma igreja, ou do igrejismo seja ele qual for, do que propriamente a doutrina espírita.

Hoje momentos antes de publicar esta matéria em São Vicente, perguntava a duas assistidas da mesma casa que vou as vezes, se elas não iriam, e ouvi "não mais, lá é guerra de êgos", fiquei pensativo, e disse procure a diretoria, mas não deixe de ir e ouvi, aprender.
E ouvi um não mais,.
E assim quem perde com isto a casa ? não, a doutrina, o movimento, que está fraco por falta de conhecimento com esta comunicação que fazemos com a vida além da vida.

Temos lidos no Facebook, e na rede testemunhos de médiuns e assistidos perturbados, eu tenho visto isto em alguns lugares, pessoas montando centro dentro de casa, um tudo pode que mais tarde vai custar muito tanto ao médium como ao assistido, isto sem dizer do tempo precioso que um espírito do bem perde vindo de uma outra dimensão e nem conseguir ensinar o que de fato veio faze-lo, ou mesmo ajudar com palavras algumas pessoas.

Nem tudo que ocorre dentro da casa, pode ser levado ao conhecimento público, nem todos estão preparados seja para um simples trabalho de passe (este então requer uma matéria de como tem sido aplicado errado) enfim está na hora dos médiuns e dos dirigentes que tem compromisso de mudar, o comportamento do tudo pode em nome do amor, e fazer equipes com médiuns pontuais que estudem, que aprendam e que saibam do risco que correm ao fazer a liberação do portal da vida além da vida, o processo todo é simples, mas, é para poucos, pois requer muito conhecimento, e disciplina sem a qual, esta doutrina não pode ser praticada.

Se queremos ajudar a obra de Jesus, o mestre amigo, de Kardec o codificador, do espírito da Verdade, é hora de voltarmos aos livros e sairmos do maravilhoso, que não leva a nada.





David Chinaglia, 57, é espírita, palestrante, pesquisador, editor deste blog, seguidor da doutrina nos preceitos da codificação Kardec, recebe e-mails para esta e outras matérias pelo davidchinaglia@gmail.com

REFORMAS SOCIAIS - Por Richard Simonetti


         
        
        
O assunto surgiu na reunião de estudos. Pa­ra a edificação de uma sociedade justa, não seria razoável a participação em movimentos que defen­dem uma mudança nas estruturas sociais?
Várias opiniões foram apresentadas. Houve quem preconizasse um engajamento do Centro, contribuindo até mesmo para a constituição de par­tido político capaz de pugnar pelos ideais espíritas. Outros defendiam uma mobilização popular, se ne­cessário, pressionando os governantes, a fim de que as legítimas aspirações do povo fossem aten­didas.
Terminada a discussão, ofereceu-se a pala­vra a Josefo, dedicado mentor espiritual que, após saudar os presentes pela psicofonia mediúnica, fa­lou:
– O assunto hoje foi empolgante. É louvável o interesse que demonstraram na procura de soluções para os grandes problemas sociais. Conside­rem, entretanto, que todas as mudanças envolven­do a sociedade, para serem legítimas e proveitosas, pedem antes a renovação do Homem, o que não pode ser feito à custa de meras reivindicações, de verbalismo ou do exercício da força, porquanto, para tanto, é preciso entrar em seu coração e não há outro caminho senão o Amor. Pode parecer pie­gas aos doutos, mas é a pura expressão da reali­dade. Jesus o demonstrou incansavelmente em seu apostolado. O Espiritismo faz a mesma proposta, apresentando a caridade como a base da salva­ção humana. Com a caridade desenvolveremos a vocação de servir, que é o Amor em ação, atuan­te, empreendedor, irresistível no apelo à renova­ção.
No entanto – retrucou Luiz, um dos defen­sores do engajamento político –, o amigo não nega que uma mobilização dos espíritas poderia favore­cer as mudanças pretendidas.
Sim, todos podem participar de tais inicia­tivas, desde que observem a ordem e a disciplina, com respeito aos poderes constituídos, mas sem envolver a Doutrina Espírita como movimento, a fim de que não tenhamos a reedição dos perigosos en­ganos cometidos pelos líderes religiosos no passa­do, que terminaram por atrelar a religião ao poder, assimilando os males que pretendiam combater.
Mas o irmão não admite que uma mobili­zação popular, até com eventual exercício de força, apressaria as mudanças pretendidas? — indaga Gabriel, um dos defensores das medidas revolucioná­rias.
– Semelhantes iniciativas realmente promo­vem modificações nas estruturas sociais, mas em nada contribuem para a edificação de um Mundo melhor. Muitos movimentos de força têm sido dis­parados. Sistemas se sucedem, mas perpetuam-se os males humanos... Países desenvolvidos resol­vem transitoriamente os problemas da miséria ma­terial, mas caem na miséria moral, que é muito pior: a primeira é provação para coletividades imensas, funciona como cadinho purificador; a segunda é semeadura de dores... Ocioso pretender-se a refor­ma da sociedade sem a renovação do cidadão. Im­possível construir uma casa sólida com tijolos crus.
Josefo fez pequena pausa, como a esperar que seus conceitos fossem assimilados, concluindo, incisivamente:
– Quando Jesus proclamou que o Reino de Deus está dentro de nós, deixou bem claro que ele não se estenderá sobre o planeta antes dessa glo­riosa conquista. Por isso, meus amigos, o nosso trabalho é junto ao coração humano, sem pressões e sem pressa, com o exemplo de nosso próprio empenho no Bem, a fim de que o Reino Divino se estenda ao nosso redor.

                                         * * *

Qualquer sistema de governo funcionará sa­tisfatoriamente se governados e governantes se ajustarem aos princípios da Justiça e da Verdade, da Fraternidade e da Solidariedade, do Trabalho e da Disciplina, do Respeito e da Compreensão.
Semelhantes realizações, que jamais pode­rão ser impostas, se concretizarão na medida em que os homens se dispuserem a seguir o Cristo pelos caminhos do Amor.


Richard Simonetti, 81 anos, espírita, palestrante, e escritor, um dos maiores divulgadores da doutrina espírita codificada por Allan Kardec.
Recebe mensagens deste e  temas no e-mail   richardsimonetti@uol.com.br 


segunda-feira, 15 de junho de 2015

BÍBLIA - Por Richard Simonetti






1 –    A Bíblia é a palavra de Deus?
É a palavra dos homens, eventualmente sob inspiração de Espíritos Superiores, que orientavam em nome de Deus.

2 –    E a legislação mosaica?
                     Moisés legislou para o seu tempo. Os 613 mandamentos que ele atribuiu a Deus, 248 positivos, o que fazer, e 365 negativos, o que não fazer, dizem respeito às disciplinas que ele impunha ao povo judeu. Digamos que há ali algo do Céu e muito da Terra, algo de divino e muito de humano. Além do mais, Moisés não conseguiu superar seus próprios condicionamentos. Agia com braço de ferro, determinando sentenças de morte até para quem desrespeitasse a proibição de trabalhar no sábado, contrariando o não matarás, da Tábua da Lei (Dt, 5:17), que ele mesmo redigira.

3 –    No livro Gênesis está a história da Criação. Até que ponto podemos considerar o que ali vai relatado como expressão da realidade?
                     Trata-se de uma fantasia, uma bela história da carochinha. Um dos equívocos lamentáveis da teologia medieval foi eleger a experiência do povo judeu, retratada no Velho Testamento, com todas as suas mitologias e fantasias, como berço da Humanidade. Milênios antes da cultura judaica tivemos inúmeras outras, destacando-se a China, a Índia, o Egito, a Babilônia… Qualquer delas poderia, com mais propriedade, até por direito de antiguidade, ser situada como o princípio da história humana.






4 –    Moisés se destaca no Velho Testamento, tanto quanto Jesus, no Novo Testamento, como as figuras principais. Que importância o Espiritismo atribui a ambos?
                     Moisés falou para um povo, para uma época. Jesus falou para a Humanidade, para todos os tempos. A revelação de Jesus tem um caráter universalista e perene, porquanto, sendo o mais perfeito Espírito que transitou pela Terra, como destaca a questão 625, de O Livro dos Espíritos, era inspirado pelo Criador. Nesse aspecto podemos dizer queem Jesus a palavra de Deus.

5 –    Jeová, o Deus do Velho Testamento, é o mesmo Deus proposto por Jesus?
                     São tão diferentes que seria preciso renunciar inteiramente ao bom senso para imaginar que possam ser a mesma divindade. O Jeová de Moisés é um deus mitológico, violento e cruel, que se vinga até a quarta geração daqueles que o ofendem, e determina que os judeus, em terra inimiga, passem a fio de espada tudo o que tem fôlego, envolvendo seres humanos, aves, peixes, animais… O Deus revelado por Jesus é o pai de amor e misericórdia, que trabalha incessantemente pela felicidade de seus filhos; que festeja o filho pródigo que retorna, e recomenda que jamais nos envolvamos com a violência, ou respondamos ao mal com o mal.

6 –    O que você considera mais importante, no Velho Testamento?
                     A Tábua dos Dez Mandamentos, que expurgada da ingerência do próprio Moisés, resume o que não devemos fazernão matar, não roubar, não mentir, não trair, não cobiçar… Temos , em síntese, a Revelação da Justiça, a demonstrar que nossos direitos terminam onde começam os direitos do próximo.

7 –    Qual a postura de Jesus em relação ao Velho Testamento?
                     Jesus revogou o que era de caráter humano, e ratificou o que era de inspiração superior. Quando inicia suas observações dizendo tendes ouvido o que foi dito aos antigos, está se referindo a Moisés. E quando afirma: eu porém, vos digo, está modificando a legislação mosaica para uma visão de caráter universalista e perene.





8 –    Considerada essa postura de Jesus, o que ele destaca no Velho Testamento?
                     O amor a Deus acima de todas as coisas, registrado em Deuteronômio (6:5) e ao próximo como a nós mesmos, em Levítico (19:18). Quando o Mestre proclama que ali estão a Lei e os Profetas, deixa bem claro que os dois mandamentos sintetizam o que de melhor há no Velho Testamento. E cultivando o amor fatalmente observaremos a justiça preconizada nos Dez Mandamentos, porquanto o amor, como destaca Paulo (1Co, 13:4-6),…é paciente e benigno. Não inveja, não se vangloria, não se ensoberbece. Não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade.




Richard Simonetti, 81 anos, escritor, espírita, palestrante, um dois maiores divulgadores da doutrina espírita no Brasil, escreve sobre o espiritismo em vários sites, blogs, colabora com o nosso onde semanalmente nos envia suas reflexões, na internet tem uma página autorizada no Facebook Richard Simonetti, e recebe e-mails sobre este texto, e todos que aqui publicou pelo 

sexta-feira, 12 de junho de 2015

O ENIGMA DA CONSCIENCIA - Por Nubor Orlando Facure




A teoria da “evolução das espécies” de Charles Darwin (1805-1882) provocou um dos maiores choques culturais da humanidade e suas conseqüências ainda estão longe de se esgotarem. Além dos aspectos biológicos com que foi inicialmente exposta pelo seu criador podemos percebê-la em diversos outros campos onde se manifesta a vida. Não seria exagero questionarmos se a evolução poderia ser reconhecida na “gênese das idéias”, capacidade que dá ao homem de hoje a sua supremacia na natureza. Nesse caso, poderíamos questionar se a “evolução das idéias” ocorreu dentro de determinados princípios e se teria sofrido uma seleção adaptativa como a que ocorreu na diferenciação anatômica, fisiológica e comportamental das espécies.



Quando o famoso psicólogo suíço, Jean Piaget, estudou a inteligência, ele nos revelou as fases que acompanham seu desenvolvimento na criança. Sabe-se que um chimpanzé adulto não ultrapassa a etapa sensório-motora que corresponde a uma criança de três anos, mesmo assim, temos que reconhecer que o seu repertório comportamental é muito vasto, nos permitindo conjeturar que eles tenham “idéias” com uma gama muito variada de pensamentos. 
Podemos reconhecer, facilmente, as fases e os diferentes “níveis hierárquicos” na construção das idéias que nos dias de hoje atestam nossa racionalidade. Toda “hierarquia” pressupõe níveis de maior ou menor organização e possibilita a divisão em categorias que variam na sua complexidade. Convém reconhecer as “idéias” como produtos de desejos e intenções construídas por pensamentos. A complexidade, maior ou menor que se revela nas idéias, é que nos permite ver nelas uma manifesta hierarquia.
Nossa sugestão é propor uma leitura por extenso do percurso que o “princípio inteligente” fez, animando todos os seres vivos, desde suas expressões mais primitivas até seu mais alto nível na espécie humana. Poderíamos ver aqui, mesmo que numa identificação arbritária, as diversas fases que percorreram os seres vivos para compor todo seu patrimônio ideatório. A idéia de sobrevivência, por exemplo, deve ter percorrido toda esta trajetória, e quase tudo que existe no nosso corpo pode ser visto como recursos que desenvolvemos para garantir esta sobrevivência. O altruísmo, que apareceu mais tarde, iniciou-se como estratégia para garantir a sobrevivência. O que antes era de interesse individual, passou, depois, a ser de interesse grupal. Convém ressaltar que os comportamentos tidos como altruístas são observado em uma ampla gama de animais, incluindo insetos, aracnídeos e vários vertebrados. O mais importante, ainda, é que sob o panorama atual da teoria evolucionista, a seleção natural age somente no nível do indivíduo e não do grupo. Isso nos leva a uma re-interpretação do “altruísmo”, que é visto hoje como um comportamento que oferece vantagens a parentes, pois esses contêm genes em comum. Em última instância o altruísmo, pelo resultado que pretende, pode ser visto como uma forma de nepotismo genético. 


Pode parecer um contra-senso falarmos de “idéias”, assim como, causaria desconfiança, apontarmos qualquer expressão de atividade psíquica nas formas mais “primitivas” (no sentido de mais antigas) de vida. Não podemos negar, porém, que a ligação biológica entre esses seres e nós, exige, de alguma forma, que tudo que se denomina para os humanos de “psiquismo” (como sinônimo de atividade mental), tem um vínculo, uma procedência, uma preexistência, uma relação direta com o comportamento destes seres. É a identificação deste percurso contínuo da atividade “mental” que queremos acompanhar. É claro que pode nos faltar terminologia e conhecimento para explicitarmos com mais propriedade o que “pensam” estes seres “primitivos”, mas não nos é permitido deixar de identificar naquilo que eles revelam em termos de “respostas químicas”, de “reações reflexas” e de “comportamentos instintivos”, com tudo o que nós produzimos no conjunto de atitudes complexas que chamamos de humanas.
É bom lembrarmos que em termos fisiológicos, a ação que produz um determinado comportamento, é resultante de um pensamento que dirige esta ação. Isto é visível quando corro para me proteger da chuva. O mesmo fenômeno é notado no chimpanzé que corre de medo de uma cobra. Em ambos os casos ocorrem comportamentos de fuga com um conteúdo mental. No caso do chimpanzé, costuma-se rotulá-lo de comportamento instintivo, como se isso fosse possível de acontecer sem a construção de um repertório mental, constituído de pensamentos de medo, diante de um perigo eminente. Sua distinção em relação ao pensamento humano pode revelar quantidades e qualidades diferentes, mas não podemos excluir que existam pensamentos e suas idéias correspondentes, tanto para o homem como para o chimpanzé.





A construção da mente
A definição de mente e sua interação com o cérebro são dilemas ainda não resolvidos pela Ciência. De qualquer forma, o homem compreende sua mente através das idéias que ela expressa. Para René Descartes (1596-165), nós já nascemos com um conteúdo de idéias inatas e Gottfried W.Leibniz (1646-1716) sugere a existência de mônadas na estruturação da mente. Para outros o conteúdo mental é produzido pelos estímulos que atravessam os nossos sentidos.
A discussão filosófica interpreta as idéias como sendo todo nosso conteúdo mental. Elas podem ser expressas em diversas formas de linguagem, seja num texto falado ou escrito ou numa composição artística qualquer. Em todas suas manifestações, o pensamento será sempre o veículo que expressa estas idéias.
Não escapa do raciocínio de qualquer um de nós que as idéias podem ter graus de maior ou menor complexidade. John Locke (1632-1704), por exemplo, considera que as idéias podem ser simples ou complexas e elas seriam resultado das nossas sensações ou das nossas reflexões.
David Hume (1711-1776) diz que o pensar é pensar por meio de imagens, é imaginar e que toda experiência, seja na sensação ou na imaginação, é chamada de percepção. Para Hume, as percepções são constituídas de idéias e impressões. As impressões podem se originar da experiência sensorial ou de atividades como a memória.Diz ainda Hume, que a impressão pode não ter a mesma nitidez das idéias produzidas pela experiência sensorial. Ela precede sempre as idéias produzidas pelas sensações e, o que não pode ser imaginado não pode ser experimentado.
Definindo a mente, Hume a considera uma espécie de teatro, onde várias percepções fazem a sua apresentação sucessivamente.Diz Hume que não temos a menor noção do lugar onde essas cenas são representadas, nem dos materiais que as compõem. Nossa mente seria apenas uma sucessão de percepções. A humanidade seria um acervo ou uma coleção de diferentes percepções que se sucedem umas às outras, numa rapidez inconcebível e se acham num estado de perpétuo fluxo ou movimento. A noção de Eu, para Hume é impossível. É um disfarce para confundir uma sucessão de idéias, com a idéia de identidade que formamos de algo que permanece igual durante um período de tempo.




A idéia de que a mente interfere na percepção das coisas não é nova. Baruch Spinoza (1632-1677), considerava que “está na natureza da mente perceber as coisas sob um certo ponto de vista atemporal”. Para Leibniz, é a disposição das mônadas, cada qual com uma disposição diferente, que dá a aparência à realidade. Cada objeto consiste de uma colônia de mônadas e o corpo humano tem uma mônada dominante, privilegiada, que mais especificamente se denomina “alma humana”.
O filósofo inglês, Jonh Locke (1632-1704), no “Ensaio sobre o Entendimento humano de 1690”, revive a afirmação de Aristóteles, considerando a mente como uma folha de papel em branco cujo conteúdo seria preenchido pela experiência. Locke chama este conteúdo mental, de idéias, reconhecendo a existência de “idéias de sensação”, que seriam originadas da observação do mundo exterior através dos nossos sentidos e as “idéias de reflexão” que surgiriam quando a mente observa a si mesmo, é quando a mente analisa por si mesmo o seu conteúdo. Dizia Locke, que tudo o que nós conhecemos são idéias, e estas, por sua vez, retratam ou representam o mundo.
George Berkeley (1685-1753), considerava que o existir de alguma coisa é o mesmo que ser percebido. Isso significa dizer que os objetos que se percebe estão na própria mente. Nossa percepção visual, por exemplo, não são de coisas externas, mas simplesmente idéias que estão na mente. No seu “Princípio do Conhecimento Humano” de 1710, Berkeley, especifica sua fórmula básica de que “ser é ser percebido”. O que na verdade conhecemos e comentamos são, conteúdos mentais. Isso fica claro, por exemplo, quando ouvimos alguém. O que entendemos é o “conteúdo mental” do que ele diz, mais do que uma série de sons verbais isolados uns dos outros e depois encadeados como as contas de um colar.
Georg Hegel (1770-1831) partia da história para construir seus princípios da dialética. Seu método se aplicava não só como um instrumento da teoria do conhecimento, mas diretamente como uma descrição do mundo. Todo passo dialético percorre três etapas. A uma declaração inicial se opõe uma contra declaração e, finalmente, as duas se combinam numa espécie de acordo. Penso eu que o oxigênio é vital para nossa sobrevivência, mas, num incêndio, o oxigênio pode agravar o fogo e nos comprometer a vida. Concluímos que conforme as circunstâncias, o oxigênio pode ser indispensável ou perigoso para nossas vidas. No discurso inicial, segundo a dialética de Hegel, podem se opor proposições contraditórias, mas a conclusão deve exigir um arranjo composto. A contradição pode existir no discurso inicial, mas no mundo cotidiano dos fatos não existe a contradição.



Hegel foi autor do “Fenomenologia do Espírito” publicado em 1806. Ele mostra possuir considerável percepção da mente humana. Na psicologia do desenvolvimento intelectual, a dialética é, até certo ponto, um método perspicaz de observação e aprendizado. Percebe-se que com freqüência a mente progride segundo o padrão dialético seguindo a seqüência da tese, da antítese e a conclusão da síntese. A Filosofia para Hegel é definida como o estudo da sua própria história. Foi a explicação detalhada dos acontecimentos que fez Hegel publicar a “Filosofia da História” de onde retirou sua dialética.
Creio eu que os acontecimentos e o significado de cada evento no decorrer do tempo, pode nos fazer compreender o sentido das coisas. Nesse aspecto a evolução da mente pode ser revelada numa abordagem dialética.
A hierarquia das idéias
A estrutura anátomo-fisiológica do cérebro humano passou por todo o processo evolutivo a que se submeteram os organismos das várias espécies que a natureza produziu. Não é de estanhar que possamos surpreender no passado as origens da complexidade da mente humana e as idéias que a permite se expressar.
Por simplificação arbitrária, podemos fazer uma leitura didática das idéias considerando os níveis de suas complexidades. Seria uma proposta de se ver uma “hierarquia” na construção e evolução das idéias, como se estivéssemos identificando os programas mais simples que serviram de base para construir os programas mais sofisticados que organizam as nossas mente.



Analisamos seis fases:
1 - Fase química ou celular. Bactérias.
Os primeiros organismos vivos iniciaram uma troca de informações químicas com o meio exterior. É a fase onde se aprimora o contato que propicia a aproximação ou a fuga, mediadas exclusivamente por reações químicas. Um animal constituído de uma única célula tem capacidade de detectar nas suas vizinhanças a presença de substâncias nutritivas e de realizar movimentos em direção a essas substâncias que ele incorpora em sua estrutura. Uma ameba, constituída por uma única célula, pode reagir, fugindo de uma picada com uma agulha ou absorver um fragmento químico que a alimenta. Essa mesma atitude continua a existir numa célula do nosso estômago ou de uma colônia de fungos.
No corpo humano, existem 250 tipos diferentes de células e é através da linguagem química que cada uma delas se comunica, entre si e com o meio exterior. Nossa atividade mental é indispensável para essa orquestração, embora nossa consciência participe muito pouco dessa atividade, vindo a si dar conta dela, nas ocasiões em que as doenças rompem a homeostase e a harmonia dos órgãos.
É extraordinário como o ovário da mulher é capaz de liberar mensalmente uma célula reprodutora, escolhida entre inúmeras outras. Não se sabe por qual mecanismo é feita essa escolha, e por mais simples que possa parecer, em cada mês é um ovário diferente que fornece o óvulo.
No quadro das redes neurais a complexidade da comunicação química e elétrica é tão extraordinária que permite aos materialistas pensarem que é ali que nascem todas as nossas idéias. O perfume de uma flor que afeta a química das nossas células olfativas é capaz de nos provocar lembranças há muito tempo sepultadas nas nossas memórias da adolescência. A atuação de cocaína nos neurônios é tremendamente devastadora para a personalidade do indivíduo viciado nesta droga. Um pensamento de cólera pode desencadear a produção de substâncias pelas nossas glândulas, com efeito, devastador para nosso organismo.
A hipófise tem mais ou menos o tamanho de uma ervilha e, mesmo assim é capaz de orquestrar uma dezena de hormônios que regulam glândulas esparramadas pelo nosso organismo.
2 - Fase reflexa: animais invertebrados.
Após a fase química e no momento em que uma célula reconhece a presença de outras células vizinhas, construiu-se uma organização que passou a distribuir tarefas. Foi criado pela “idéia” do grupo celular, um sistema de estímulo-resposta caracterizado, tipicamente, pela expressão de um determinado comportamento reativo. Essa reação pode ser tão simples como um movimento corporal ou uma divisão celular. Outras vezes são complexas expressando fuga ou aproximação. Uma ameba, constituída por uma única célula, pode reagir, fugindo de uma picada com uma agulha.
Nesse nível não há condições suficientes para produzir um aprendizado, mas a programação genética herdada, permite às espécies reproduzirem respostas repetidas e organizarem os instintos.Uma lesma do mar (aplísia) não é capaz de aprender a sair de um labirinto, mas reage diante de uma ameaça, expulsando um jato de tinta que confunde o predador.
A falta de flexibilidade das idéias nesta fase pode ser danosa e comprometer a sobrevivência do animal. Uma mariposa confunde a luz dos postes com a claridade da lua e morre queimada pelo calor da lâmpada. É curioso notar o quanto essa falta de flexibilidade tem perturbado a vida de todas as criaturas. As tartarugas recém nascidas, por exemplo, confundem as luzes da cidade com as estrelas vespertinas, e morrem esmagadas no asfalto. É notória a competência das mulheres em lidarem com a flexibilidade das idéias a seu favor, superando com isso, o mito da inteligência masculina.
O processo fundamental nesta fase incipiente do “princípio inteligente” é sua interação com o meio. Sua fisiologia está baseada na lei de “ação e reação” onde para um determinado efeito existe uma única causa que a observação ou a experimentação pode revelar. Em termos neurológicos esta fase caminha para o desenvolvimento do arco reflexo e dos mecanismos automáticos ligados aos núcleos da base. Estas estruturas estão intimamente ligadas à sobrevivência. Organizam-se colônias multicelulares e a reprodução é por divisão celular sem qualquer divisão sexual A partir daqui serão desenvolvidos objetivos mais sofisticados para aproveitar melhor os mecanismos de aproximação ou fuga. Uma libélula é capaz de responder a estímulos químicos de uma parceira sexual situada há quilômetros de distância.
Diversos órgãos do nosso corpo estão em constante atividade dirigida por um sistema nervoso totalmente autônomo. Este sistema funciona sob controle de atividade química de neurotransmissores que os reflexos nervosos ao nível dessas vísceras liberam. A “hidra dos aquários” é um dos animais que possui o sistema nervoso mais simples que conhecemos e convém destacar que com a criação das primeiras redes neurais, teve início o que podemos chamar de linguagem interna.
3 - Nível das proto-idéias: peixes, répteis, anfíbios e aves.
Têm início os automatismos. Desenvolve-se aqui a organização de sociedades, formação de agrupamentos e construção de abrigos. Um animal nessa fase já tem “consciência” da existência do outro. Na constituição das famílias começam a aparecer “idéias” de proteção dos descendentes e acúmulo de alimentos para garantir a escassez. Os pais têm compromissos na alimentação das suas crias. As relações com o meio exterior ficam mais complexas. Aparecem as noções de esquema corporal vital para o animal aprender a associar as suas dimensões em relação ao ambiente, ao tamanho dos seus rivais e o quanto pode estender suas patas para alcançar as suas presas. Desenvolvem-se a orientação no tempo e no espaço indispensáveis aos ritmos biológicos circadianos. Aves e peixes fazem jornadas quilométricas mapeando e depois memorizando as sinalizações que encontram na trajetória percorrida durante as migrações. Aparece um verdadeiro aprendizado no qual o conhecimento adquirido é transmitido de uma geração para outra. Isso pode ser visto na construção de tocas, de ninhos ou mesmo nos gestos que as aves usam para voar. Na verdade todas essas atividades não são exclusividade dos vertebrados, varias espécies de insetos já fazem exatamente a mesma coisa milhões de anos antes.
4 - Nível integrativo ou associativo: mamíferos “inferiores” e primatas.
Aqui a aquisição de conhecimento se completa com a possibilidade de ser este conhecimento transmitido às gerações futuras. Varias funções psíquicas são agregadas para a sua estruturação. Compõe-se, por exemplo, da fixação da atenção, das respostas emocionais e da memorização. Elas se caracterizam pela interação com o ambiente e pela formação do conhecimento.
O animal consegue desenvolver um comportamento comprovadamente inteligente. O macaco utiliza-se de instrumentos que lhe facilitam o acesso a uma fruta que os braços se mostram curtos para alcançar. Comportamentos altruísticos facilitam a sobrevivência de membros do grupo.
5 - Nível de aquisição da consciência do Eu: humanos
Quando falamos de consciência do Eu, temos a impressão de que esse Eu parece ser alguém que está sempre conosco, exatamente onde estamos e dentro de nós. A minha sombra não é o meu Eu, nem o é as imagens que vejo nas minhas memórias. Ali estão apenas as minhas lembranças.
É extensa a literatura que descreve as características que diferenciam o comportamento do homem em relação aos outros animais. Diz-se que o homem é o único animal que perdoa. Só ele é capaz de sorrir e de dar a vida para salvar seu filho (pesquisas recentes constatam que insetos, aracnídeos e outros vertebrados também podem exibir esse comportamento). O homem é o único animal cujos medos são capazes de criar supertições.



A mente humana incorporou todos processos de linguagem que a evolução do nosso organismo nos possibilitou acumular. Nossas “idéias” passaram a dar um significado a cada objeto. Esse significado passou a ser reconhecido por símbolos. O pensamento começou a se expressar simbolicamente por palavras construindo uma linguagem e a partir daí a humanidade construiu sua cultura.
A aquisição da linguagem falada foi um processo que hoje está tão arraigado em nossa mente, que nos parece ser impossível mentalizar qualquer idéia sem o uso das palavras. Todos nós, porém, nos comunicamos, tanto interna como externamente, com diversas outras formas de linguagem. Nossos medos e nossas crenças, comumente, não usam palavras para se manifestarem em nós. As expressões corporais são umas das mais eficientes formas de comunicação que também não se serve de palavras. Qualquer artista de teatro sabe que nosso corpo fala pelos gestos. A linguagem corporal é tremendamente mais rica e eficiente que a linguagem verbal. As palavras nunca conseguem expressar toda força de uma grande emoção enunciada pelos gestos.
A consciência dos nossos atos corre em paralelo com uma série de gestos que podemos realizar inconscientemente. Já discorri sobre o que chamei de inconsciente neurológico dando exemplos que ilustram esta atividade. Diversas funções cerebrais estão intimamente ligadas à consciência. É fácil percebermos que o nosso nível de consciência está ligado ao esforço que imprimimos à atenção e à qualidade da consciência depende do material contido nas nossas memórias.
Nessa fase nossa consciência é limitada pelos recursos que o cérebro pode lhe oferecer. Em raras situações o desdobramento da consciência pode ser registrado no cérebro e nessas situações tomamos contato direto com as informações procedentes de outras dimensões e que ficaram impressas nos circuitos da memória física.



A espiritualidade é um atributo de nossa personalidade. Ela se desenvolveu no curso da evolução a partir de idéias primitivas de temores diante das ameaças que as forças da Natureza parecia nos ameaçar. Depois aprendemos a estabelecer as trocas com a divindade.
6 - Nível transcendente ou de espiritualização: “místicos” e missionários.
Compreende o período da expansão da consciência. O neurologista está habituado a analisar os níveis de consciência no seu sentido de maior ou menor profundidade. Esses níveis variam desde o estado de alerta, a sonolência, o torpor e o coma, quando então a consciência está abolida em graus de maior ou menor profundidade. A visão neuropsicológica moderna nos permite ver as alterações da consciência em expressões de maior ou menor amplitude. A expansão da consciência nos permite acessar, voluntária ou involuntariamente, os chamados “estados alterados da consciência”, com a possibilidade de transitar por informações de outras dimensões.



No nosso atual estágio evolutivo, o que compreendemos destes “outros planos da vida”, ainda são “idéias” elaboradas por construções fragmentárias. Quase sempre sem tradução completa nas expressões comuns da linguagem humana. Elas podem ser aceitas, transmitidas, mas não são compreendidas em toda sua extensão. É preciso ver nelas o subentendido que o aparente não revela. Expressam conceitos como: Deus, a criação, a eternidade e o infinito. Caracterizam-se por serem adquiridas como uma “revelação”. Podem ser interpretadas como sendo uma “vivência psíquica”. Uma das suas características é a sua generalidade. Grandes místicos do passado conseguiram expressá-las nos textos dos seus pensamentos memoráveis. Ao recordar algumas destas idéias podemos perceber a harmonia com que combinam simplicidade com complexidade: “o tudo está em tudo”, “tudo é movimento”, “o cosmo está no homem”, “o não visto é o visível próximo”. Aqui se descobre a complexidade do mundo, a extensão das experiências que nossas mentes já acumulam. E, tanto efeito como causa, devem ser vistos no plural.
Uma visão psicológica
As idéias têm a propriedade de revelar a atividade mental que estamos desenvolvendo. Isso não significa que elas sejam sempre expressas na linguagem falada que estamos habituados a expressar. Um gesto ou a expressão de um olhar nos mostra que o corpo fala, e às vezes, fala mais que as palavras.
Penso que o conteúdo da nossa mente não é preenchido apenas por idéias, conforme afirmam alguns filósofos. O que torna muito mais complexa as possibilidades de nos expressarmos. Todos nós sabemos, que o conteúdo do inconsciente, é muito rico de imagens que as idéias se mantém por muito tempo desordenadas. Conhecemos a dificuldade em traduzirmos este texto escondido no inconsciente. Muitas doenças servem de linguagem traumática para expressar o que temos ali dentro.
À medida que vamos estabelecendo idéias bem definidas, vamos acumulando um conhecimento que gradativamente constrói a nossa cultura. Outras idéias são aceitas de modo dogmático estabelecendo as crenças e criando os mitos. As crenças podem se adquirir a partir de uma experiência subjetiva, difícil de ser transmitida para os outros.
No diálogo interior que fazemos com a nossa própria consciência estamos habituados a construir desejos e intenções que podem se revelar no ambiente que nos cerca através de palavras ou de gestos. Entendo a consciência como a “propriedade” que nos permite perceber a realidade interna e externa.
No que se refere ao mundo exterior, é sempre mais fácil construirmos idéias que descrevam o que percebemos a respeito dele. É uma tarefa mais leve identificarmos e descrevermos os objetos situados fora de nós. Quanto ao nosso mundo interior as idéias são insuficientes para descrevê-lo. Nossas impressões e reflexões são sempre mais fortes do que os pensamentos que elaboramos sobre elas. Estamos habituados a traduzir nossos pensamentos em palavras, e as emoções que nos afetam, podem ser de tal magnitude que nos faltem palavras para descreve-las. Outras vezes, nossa surpresa é tão grande que nos faltam idéias para interpretar os fatos que nos abalam.
Acreditamos que nossa consciência é preenchida de pensamentos e idéias incessantes, parecendo-nos a todos que é impossível pararmos de pensar. Os místicos, habituados a se concentrarem em meditações profundas, descrevem a consciência como um fluxo incessante de energia e não necessariamente de idéias. Nesse estágio, a consciência se apropria da essência das coisas e atinge outras realidades.
No processo de aquisição das idéias e da experiência que a evolução sedimentou, podemos perceber que a mente humana é herdeira, de todas as formas de conhecimento que cada célula, cada agrupamento celular e cada organismo de todas as espécies que a evolução nos permitiu transitar, conduzindo, o “princípio inteligente”. É perfeitamente possível identificarmos, em expressões do comportamento humano, toda esta riqueza de idéias que a vida, expressa em tão grande diversidade biológica, conseguiu fixar em nossa mente.
A atividade celular em qualquer parte do nosso corpo ainda obedece à mesma química das células dos primeiros animais que nos antecederam. Os reflexos primitivos permanecem em total independência na sinfonia dos nossos órgãos internos. Os instintos e automatismos de uma abelha que constrói seus favos ou de uma libélula que localiza sua fêmea permanecem vivos no homem e na mulher que constroem seus sonhos. Quase todos nós já vivemos a experiência de usar um reflexo de fuga para dar um salto antes que alguém nos atropele. O instinto de sobrevivência nos faz agasalharmos para não sermos surpreendidos pelo frio. Muitas vezes caminhamos automaticamente por ruas que já conhecemos sem precisarmos nos dar conta dos obstáculos que elas contém. É instintiva a necessidade de correr quando um animal nos ameaça ou quando o cheiro de fumaça é alertado pelo grito de que há fogo por perto. Com esses exemplos estamos ressaltando que a química celular, os reflexos, os automatismos, o comportamentos instintivos adquiridos nos cenários da vida, permanecem convivendo conosco em parceria com a consciência, permitindo que através dela, toda nossa atividade seja comprometida com nossa responsabilidade.



Uma olhada na psicopatologia
A doença mental tem sido focalizada no decorrer dos tempos a partir de variadas interpretações. Não pretendemos nos deter neste histórico deixando apenas registrado que, na atualidade, ainda prevalece uma visão organicista e outra psicodinâmica nos fundamentos da psicopatologia. Qualquer que seja nossa abordagem permanecerá no palco das manifestações dos distúrbios mentais uma perturbação no contexto das idéias que cada indivíduo revela nos seus desvios mentais.
Como nos parece que as idéias foram construídas a partir de um processo evolutivo acrescentando níveis de aquisições hierarquizadas, creio que poderíamos dar uma olhada no discurso das doenças mentais a partir da idéias que revelam o quadro clínico destas manifestações. Nossa proposta é apenas um ensaio despretensioso.
No caso do autista, podemos enxergá-lo fixado em um nível de reação extremamente limitado que não lhe permite interagir adequadamente com o meio exterior. Sua capacidade de gerar respostas aos estímulos exteriores está fortemente comprometida. Sua vida se limita a reflexos simples sem os componentes de associação entre os diversos módulos de atividade cerebral. No transtorno obsessivo compulsivo as atitudes estão fixadas em automatismos primários cuja repetição é impositiva para o paciente.
Na esquizofrenia ocorre uma regressão violenta na capacidade de construir idéias coerentes com a realidade tanto do meio externo quanto interno. O paciente tem uma aparência de constante sensação de hostilidade. Suas capacidades parecem se limitar a reações de fuga, tal qual um animal onde as “idéias” se limitam à atividade celular. Os estímulos exteriores não têm competência para gerar um padrão de resposta integrada.
A Hierarquia das idéias na Formação da Consciência
Diversos fatores contribuíram para que o estudo da consciência voltasse a despertar interesse da Ciência. Este estímulo se iniciou com a “Década do Cérebro” e o estudo das funções cerebrais através das imagens com a Tomografia de Pósitrons e a Ressonância Funcional.



O neurologista Antônio Damásio e o físico Francis Crick são dois exemplos atuais de estudiosos que se propuseram a esclarecer o “enigma da consciência”. Em ambos persiste a visão materialista que reconhece no cérebro e no arranjo dos seus neurônios a capacidade de produzir a mente e estabelecer as condições que constrói a consciência. Os elementos envolvidos são outros, mas é o mesmo conceito de que se serve Thomas Hobbes (1588-1679), quando publicou o Leviatã em 1651, afirmando que a realidade interna se resume em movimento e que nossos pensamentos e nossas paixões são efeitos do movimento da matéria.
No modelo materialista, utilizado pelas escolas neurológicas da atualidade, temos de lidar com redes de neurônios e tentar conhecer o mínimo de estrutura cerebral que é exigida para permitir a determinado animal permanecer consciente. Esta resposta não é difícil quando estivermos procurando apenas o que a consciência representa em termos de estarmos alerta, em contato com o meio exterior. Teremos muito mais dificuldade quando discutirmos a extensão total da consciência, o significado do Eu, o grau de apreensão que podemos fazer de uma determinada situação ou mesmo do ambiente que afeta a nossa consciência. Num sistema organizado e de alta complexidade como o cérebro, é perfeitamente possível estabelecer os fundamentos neurofisiológicos para uma expressão limitada da consciência humana.
Para os que aceitam o paradigma espiritualista, sabemos que nossa Alma, devido a suas múltiplas existências, tem um conteúdo de conhecimento muito maior do que o que o cérebro físico possa revelar. É exatamente esta limitação apresentada pelo cérebro que nos impede de identificar uma lei abrangente, capaz de apreender toda fenomenologia da consciência.
Ao invés de se tentar equacionar o “enigma da consciência” pela estrutura das redes neurais e seus sistemas de organização, estamos apresentando uma via de acesso à consciência, pela elaboração e hierarquização das idéias. Ao estabelecermos um fundamento hierárquico para suas expressões, podemos questionar quais conteúdos e significados das idéias que seriam compatíveis com o aparecimento da consciência. Dessa forma, quando aumentar nosso conhecimento sobre os diversos aspectos da consciência, os fundamentos serão sempre os mesmos, irão variar apenas o significado das idéias necessárias para explicar determinada apresentação da consciência. Para estarmos alertas e perceptivos em relação ao ambiente, precisamos de um determinado padrão ideatório e para estarmos consciente do Eu, nos é exigido um outro determinado padrão de idéias. Para a expansão da consciência a outros planos da vida, são exigidos os padrões transcendentes de idéias. Os ganhos anatômicos do cérebro foram adquiridos, presumivelmente, pelo desenvolvimento de uma crescente constelação de idéias que a evolução estimulou nos desafios da vida.
A importância das idéias se revela na percepção que temos da realidade, bem como, nas ações que executamos acreditando serem procedentes de nossa vontade. Ambas, nada mais são que impressões do imaginário que a evolução nos permitiu construir na consciência.
Bibliografia
Damásio, A – O Mistério da Consciência; do corpo e das emoções ao conhecimento de si. São Paulo – Companhia das Letras –2000
Del Nero, H.S. – O Sítio da Mente – São Paulo – Collegium Cognitio – 1997.
Facure, N.O. – O cérebro e a Mente –Uma conexão espiritual – São Paulo - FE.Editora -2001
Searle, J.R. – A Redescoberta da Mente – São Paulo – Martins Fontes – 1997.
Pinker, S. – Como a Mente Funciona – São Paulo – Companhia da Letras – 1998.
Russel, B – História do Pensamento Ocidental – Rio de Janeiro – Ediouro - 2001.
Luiz, A & Xavier, F.C. – Evolução em dois mundos – Brasília – FEB-10 ed. 1987.





Nubor Orlando Facure, médico, Neurologista, um dos maiores estudiosos da mente humana e do cérebro, ex diretor da Unicamp, atual presidente e médico do Instituto do Cérebro no Brasil em Campinas SP, é espírita, tem 75 anos, amigo pessoal de Chico Xavier, médico da espírita Therezinha de Oliveira, viveu o milagre de Uberaba, é testemunha de inúmeros fatos importantes do espíritismo, da engenharia mente, cérebro e Espírito, no Facebook Nubor Orlando Facure, o médico e espírita recebe e-mails pelo lfacure@uol.com.br amigo deste blog, é colaborador a mais de 2 anos.